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Todos os dias passo por aquela avenida, na realidade é uma rua com cara de avenida, São Paulo tem dessas coisas.
Trânsito, farol. Paro e olho sempre assustada, às vezes acho que sou neurótica. Tudo bem até agora. Um menino vende balas e insiste em colocar o pacote sobre o meu carro. Logo levanto o dedo num sinal de: ”não menino, não acho certo criança no farol”. Ah... férias, por isso ele aqui, na semana passada acho que estava em aula. Sol a pino. As balas e o menino. De repente, olho pelo retrovisor, ele coloca o pacotinho sobre o vidro de um carro, mas nem um dedo é levantado, ela nem olha, é indiferente. Sol a pino. Chama minha atenção quem está a seu lado, ele não usa cinto... Sol a pino. Do lado da mulher está um pet, agora é assim que eles são chamados. Cinza, pelos prateados. Sol a pino. Os vidros do carro estão todos fechados, ar condicionado. Lá fora, sol a pino. Eu olho tudo. Lá fora, o menino.
Simone Goh
4 comentários:
"Pelo retrovisor vemos tudo ao contrário,letras,lados,lestes... e na verdade nada muda...e a menina debruçadando favores toda suja é mãe de filhos que não conhece vendidos por açucar..."(futuro?)
Triste ver o mundo do avesso,ao contrário como pelo retrovisor de nossos carros...Adorei o post Parabéns!
Professora Simone seus textos são sempre uma delícia e nos levam a reflexões...
Parabéns!
Texto interessantíssimo!
De fato, temos esse sentimento ao ver um menino, um simples menino vendendo balas no semáforo, a sensação de "vem cá que eu vou te dar banho e comida" é enorme. Em pensar que por trás disso tudo existe sempre o adulto.
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