quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Crônicas Linguísticas - Atenuadores, what ?

Crônicas linguísticas – Atenuadores, what ?


As crônicas são gêneros do cotidiano, literários claro, a despeito da opinião de alguns, que julgam que pela sua linguagem despreocupada, esses textos não têm o status de literatura.
Uma crônica pode emocionar tanto quanto um conto, criar aquele aspecto de estranhamento no leitor, se duvida disso, leia as crônicas de Drummond, Rubem Braga. Você já leu a crônica “Meu ideal seria escrever” ?
Talvez aqui não consigamos emocionar, mas quem sabe causar um estranhamento, não por conta de escolhas lexicais inteligentíssimas, ou construções linguísticas fora do comum, mas sim por apresentar um tema e discuti-lo por meio de um acontecimento real.
O tema de hoje é : marcadores de atenuação . What ? Ah, deixe-me ser mais exata, ou melhor mais didática, estou estudando para o meu projeto de doutorado determinadas marcas que os locutores criam em seu discurso para preservar sua face ou a de seu interlocutor (face é a imagem social do eu, assim todos possuímos uma face, ihihihi.)
Iniciando nossa história, não me levem a mal, mas é uma história muito comum (viram? “não me levem a mal” , podemos dizer que é um marcador de atenuação, é isso aí).
Bem, tudo começou quando eu e meu filho entramos em um banco para fazer uma operação de transferência, chegando em frente ao caixa , ele me disse que eu precisaria uma assinatura digital e que me dirigisse à gerência para consegui-la (a gerente estava em uma mesa próxima), depois disso, poderia passar direto com ele, sem entrar na fila. Assim eu o fiz, mas a gerente disse que a tal assinatura não era necessária, levantou-se, foi até o caixa e eu a segui.
Ela explicou então o caso ao funcionário e eu que estava parada ao lado do primeiro da fila, esperei que o atendimento terminasse, dei uma olhadinha e um sorriso para a senhora que era a seguinte e me coloquei frente ao caixa. A senhora então disse em alta e brava voz “Com licença ,né”. Eu me virei , super sem graça, expliquei o caso a ela, desculpei-me, dizendo que havia pensado que ela estava acompanhando o movimento, foi quando me lembrei dos danados dos marcadores de atenuação e já ia falando “há marcadores que são extraverbais, gestos que têm a mesma função que os verbais, assim quando dei um sorriso e uma olhadinha supus que esses seriam os marcadores, que a senhora tivesse entendido a mensagem), mas... não deu tempo e nem me atreveria, pois a tal senhora continuou o barraco, falando que eu deveria ter mais educação, não entrar na frente das pessoas daquele jeito.
Meu filho também tentou se retratar, pedimos assim desculpas juntos, enfim ela continuou com sua intransigência, qu a acompanha até hoje.
O caixa ficou sem graça com a situação e produziu um marcador extraverbal, um olhar de piedade, como que dizendo “tudo bem, você esqueceu da licença, mas não foi rude....”
No fim, saímos do banco sem conseguir realizar a operação, pois já tinha feito um saque e assim não poderia fazer a transferência etc e tal.
Lição do dia : não confie em marcadores extraverbais, as pessoas querem as palavras, clamam por elas, nunca troque as palavras mágicas : com licença, por favor e obrigada por um olhar, nem que ele seja doce e meigo.

Ficam as dicas :

http://www.releituras.com/rubembraga_meuideal.asp

GOFFMAN, E. Ritual de la interacción. Buenos Aires: Tiempo,1970
_____________ . A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis: Vozes Contemporáneo, 1985
ROSA, M. M. . Marcadores de atenuação. São Paulo: Contexto, 1992