terça-feira, 8 de junho de 2010

Palestras Maingueneau e Dino Preti


Queridos alunos e amigos, a seguir minhas considerações sobre duas palestras excelentes, a primeira proferida por D. Maingueneau, que coloca em discussão, sob a ótica da análise do discurso um texto de propaganda eleitoral, depois o prof. Dino Preti que nos abrilhantou com seus posicionamentos sobre a gíria. Curti muito e compartilho com vocês meus relatórios :


Palestra Prof. Dominic Maingueneau
Simone S. Goh


Local : Pontifícia Universidade Católica – PUC/SP 28.4.2010
Tema : O discurso eleitoral – fronteiras nebulosas

Objetivo : Inserir o gênero discurso político no campo da análise do discurso e da semiótica narrativa.

Corpus : Texto de propaganda eleitoral do candidato à presidência da França , José Bové, disponível na internet (anexo)

I- Considerações sobre o gênero :

1) Os textos são singulares, de forma que o primeiro passo para a análise é entender o gênero (discurso eleitoral) e a relação com o candidato.
2) O texto analisado tem um formato padrão para todos os candidatos ( uma foto e quatro páginas de texto (livre).
3) O texto só se faz discurso quando o locutor reapresenta suas relações, para isso é necessário estabelecermos os campos semânticos : candidato/partido e partidos de direita/esquerda.
4) O discurso se apóia na memória (“ às urnas” intertextual com “às armas” citação do Hino Nacional da França . Assim podemos entender que votar em José Bové é fazer uma revolução. Ao compor dessa forma o enunciado ele faz uso da chamada enunciação anaforizante :

Em nossa sociedade circulam, quer sob a forma oral, quer sob a forma escrita um , grande número desses enunciados. Expliquemos melhor: estamos aqui nos referindo aos enunciados curtos, representados, na maior parte dos casos, por uma única frase, quando são retirados de seu contexto original ou, em outras palavras, quando são descontextualizados. Tais enunciados são normalmente atribuídos a uma fonte autorizada (que pode ser representada por um indivíduo ou por uma entidade abstrata, tal como, por exemplo, “a sabedoria popular”). Isso acontece, principalmente, no caso específico dos enunciados que compõem os provérbios. Entre esses enunciados, existem alguns que já se mostram, de modo natural, “destacados”, ou seja, são enunciados que foram assim concebidos desde sua origem. Vamos incluir nesse caso as máximas, os provérbios e as divisas, entre tantos outros. Aliás, devemos lembrar que os linguistas têm geralmente mostrado um grande interesse pelo estudo desse tipo de enunciado. Porém, existe um outro tipo de enunciado “destacado”: aqueles que foram isolados ou retirados de um determinado texto pela ação de um ou de vários agentes. Tais enunciados seriam correspondentes às citações, no sentido tradicional que a palavra carrega.

Fonte: www. abralin.org/abralin2007/resumos/maingueneau.pdf




II- Inferências sobre Bové :

1) está acima do enunciado e estabelece uma ideologia que é dele e não do partido(Socialista) o qual ele representa; o candidato se coloca como portador de uma instituição.
2) Do campo semântico – candidato : sindicalista camponês, militante altermundialista, cidadão engajado. Constrói novas realidades por meio de novas construções lexicais, o que pode denotar ambigüidade =>sindicalista e camponês não pertencem ao mesmo campo semântico.

III- Análise do Discurso

1)Para Maingueneau , o discurso é uma maneira de refletir sobre a realidade e essa r já contém o discurso político .

2)Todo discurso pressupõe a construção de uma imagem daqueles que estão envolvidos no processo interativo visão de Maingueneau que se difere da Aristotélica:

Para Aristóteles O orador é simbolizado pelo ethos: a sua credibilidade assenta no seu caráter, na sua honorabilidade, na sua virtude, em suma, na confiança que nele se deposita. O auditório é representado pelo páthos: para convencê-lo é preciso impressioná-lo [...] Resta,enfim, a terceira componente, sem dúvida, mais objetiva: o lógos, o discurso.O ethos, portanto, estaria ligado ao orador, ao seu caráter, à sua virtude, na confiança que ele pode gerar no auditório. O caráter (ou ethos)do orador constituirá ponto importante na persuasão.Segundo ele, há três espécies de provas empregadas pelo orador para persuadir seu auditório, quais sejam: o caráter do orador (o que ele chamou de ethos); as paixões despertadas nos ouvintes (o páthos), e o próprio discurso (o lógos). Assim, o ouvinte se deixa convencer pelas três provas. O páthos é, em Aristóteles, a representação dos sentimentos do próprio auditório. Para convencê-lo é preciso impressionar, seduzir, fundamentar os argumentos na paixão, para que se possa aumentar o poder de persuasão. Dessa forma, o páthos liga-se ao ouvinte, sobre o qual recai a carga afetiva gerada pelo lógos do orador. Este último, por sua vez, sendo o discurso, convence, por si mesmo, pelos argumentos utilizados em situação de comunicação concreta. O lógos pode ser ornamental, literário, argumentativo etc. O tipo de argumento dependerá da situação comunicativa concreta na qual se insere o orador.

Fonte: MAINGUENEAU, D. Novas tendências em análise do discurso. (trad. de Freda Indursky). Campinas, SP: Pontes: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 3ª ed. 1997.

Já para a Análise do Discurso, a terminologia ethos diz respeito à construção de uma imagem de si por meio do discurso. Assim, dizer que os participantes do discurso criam uma autoimagem por meio dele, significa também afirmar que o discurso carrega as marcas do enunciador e do co-enunciador, entendidos aqui como aqueles que interagem no processo discursivo. As imagens do enunciador e do co-enunciador agem no campo discursivo, de modo a serem parte constituinte do processo enunciativo. À construção dessa imagem de si no discurso convencionou-se chamar de ethos.



Ethos na visão de Maingueneau

A Análise do Discurso analisa as imagens criadas pelos, tendo como principal expoente nos estudos do ethos Maingueneau (1997), vai retomar o conceito aristotélico de ethos quando afirma que este é a imagem de si no discurso. No entanto, a Análise do Discurso vai além dos estudos elaborados pela Retórica, pois pretende analisar as imagens criadas pelos enunciadores no discurso baseando-se não apenas em situações de eloquência judiciária ou em enunciados orais, mas se estendendo a todo e qualquer discurso, mesmo àqueles presentes no texto escrito. De forma que o ethos representará a relação entre os sujeitos e suas posições discursivas, para Maingueneau não existe um ethos pré-estabelecido, mas construído na instância enunciativa.
A noção de ethos, para ele, permite refletir sobre o processo mais geral da adesão dos sujeitos a uma certa posição discursiva. Retomando a idéia aristotélica de que o ethos é construído na instância do discurso, Maingueneau (1997)afirma que não existe um ethos preestabelecido, mas sim um ethos construído no âmbito da instância enunciativa.

IV- Considerações Finais

Em relação ao ethos de Bové – ele se mostra candidato de suas próprias ideias, sua imagem é fabricada, pois ele não se qualifica pelos campos semânticos que o determinam no discurso. Porém , segundo Mangueneau “ O corpo encarna o que o texto diz”, assim durante sua campanha é esse Bové que vimos.
O texto apresenta 90% de implícitos, pressupor é fazer o outro aceitar o que não aceitaria se fosse explicitado, assim de acordo com essas premissas as pressuposições do discurso de Bové têm esse objetivo, buscar a aceitação dos eleitores.


Conferência Dominique Maingueneau
Professor em Ciências da Linguagem – CEDITEC – Université Paris XII
Membro do Institut Universitaire de France
Discurso eleitoral – fronteiras nebulosas
28 de abril de 2010



Senhora, Senhorita, Senhor,
Eu sou um candidato diferente dos outros.
Sindicalista camponês, militante altermundialista, cidadão engajado, eu não pertenço a nenhum partido político. Milhares de homens e de mulheres, militantes (militan-e-s) ou não, de sensibilidades diversas, me pediram para ser seu candidato.
Eu solicito o sufrágio de vocês como porta-voz de um agrupamento (rassemblement) de milhões de cidadãs e de cidadãos que estão em situação precária e de insegurança social, que contestam um sistema político confiscado por alguns dos grandes partidos e que se inquietam por eles e pelas gerações futuras do futuro do planeta.
Como vocês, eu não creio na alternância sem fim entre direita e esquerda festiva (molle). Vocês têm entre suas mãos uma arma pacífica para dizê-lo: seu voto. Há dois anos as eleitoras e os eleitores se insurgiram contra o projeto da Constituição européia.
No dia 22 de abril, nós teremos ocasião de decretar a insurreição eleitoral contra o liberalismo econômico.
Nós podemos verdadeiramente mudar a vida. Nós podemos impor, aqui e agora, uma verdadeira transformação social, feminista, democrática e ecológica.
Seu voto é útil para derrotar a direita e a extrema-direita que organizam a regressão social e ambiental. Para construir uma esquerda alternativa é necessário que nos unamos para dar fim à sociedade do vale-tudo do mercado e vale-tudo do lucro. Seu voto é preciso para reconstruir a esperança. No dia 22 de abril, vocês podem dizer que um outro futuro é possível.

Às urnas Cidadãos, Cidadãs


JB



Palestra Prof.Dino Preti
Congresso Internacional da Língua Portuguesa
Simone S. Goh


Local : Pontifícia Universidade Católica – PUC/SP 30.4.2010
Tema : Discurso dos grupos restritos – a gíria

Objetivo : Apresentar a gíria como uma variedade linguística criativa de uso em várias esferas sociais.


I-Considerações sobre grupo social :

Conjunto de pessoas que partilham de determinados interesses, pessoas que se afastam pelo inusitado, são marcadas pelo comportamento agressivo e conflituoso com linguagem diferenciada, sendo a gíria utilizada como defesa.


II-Demais premissas :

a-A gíria se incorpora ao vocabulário popular, tornam-se gíria comum;
b-A gíria é efêmera, aproxima os falantes de determinados grupos;
c-Falar diferente, fora do comportamento social indica uma postura crítica.

III-Mecanismos que rejeitam a gíria :

a- Pelo diferente, agressivo;
b- Tentativa de trazer para língua comum ( a escola pune o aluno ao utilizá-la no texto) , o professor não deveria ser contra ou a favor, mas posicioná-la em seu uso.

IV-Considerações sobre determinados termos gíricos :

a-patota( arcaísmo gírio), legal (incluído no vocabulário, almôndega (gíria recente – dançarinos que se amassam).

V-Considerações Finais:

A presença da gíria no dia a dia (inclusive de falantes cultos) demonstra uma menor tendência à tradição e aponta para a valorização da língua falada (língua do povo).



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