sexta-feira, 8 de junho de 2012

Crônica : Aquele menino...

 Todos os dias passo por aquela avenida, na realidade é uma rua com cara de avenida, São Paulo tem dessas coisas. Trânsito, farol. Paro e olho sempre assustada, às vezes acho que sou neurótica. Tudo bem até agora. Um menino vende balas e insiste em colocar o pacote sobre o meu carro. Logo levanto o dedo num sinal de: ”não menino, não acho certo criança no farol”. Ah... férias, por isso ele aqui, na semana passada acho que estava em aula. Sol a pino. As balas e o menino. De repente, olho pelo retrovisor, ele coloca o pacotinho sobre o vidro de um carro, mas nem um dedo é levantado, ela nem olha, é indiferente. Sol a pino. Chama minha atenção quem está a seu lado, ele não usa cinto... Sol a pino. Do lado da mulher está um pet, agora é assim que eles são chamados. Cinza, pelos prateados. Sol a pino. Os vidros do carro estão todos fechados, ar condicionado. Lá fora, sol a pino. Eu olho tudo. Lá fora, o menino.
                                                           Simone Goh

4 comentários:

Analu disse...

"Pelo retrovisor vemos tudo ao contrário,letras,lados,lestes... e na verdade nada muda...e a menina debruçadando favores toda suja é mãe de filhos que não conhece vendidos por açucar..."(futuro?)
Triste ver o mundo do avesso,ao contrário como pelo retrovisor de nossos carros...Adorei o post Parabéns!

Célia Taquehara disse...

Professora Simone seus textos são sempre uma delícia e nos levam a reflexões...
Parabéns!

Sandra Delmonte Gallego Honda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sandra Delmonte Gallego Honda disse...

Texto interessantíssimo!
De fato, temos esse sentimento ao ver um menino, um simples menino vendendo balas no semáforo, a sensação de "vem cá que eu vou te dar banho e comida" é enorme. Em pensar que por trás disso tudo existe sempre o adulto.