O silêncio
Simone Goh
Todo dia o silêncio acordava
aquele menino e lhe falava que ele, o silêncio, era muito especial
Trazia felicidade para as
pessoas, que tinham mais tempo para olhar a vida, não perdiam tempo em escutar
tantas bobeiras. O menino ria do silêncio e dele se fez amigo, achava. Assim
acordava, dava um beijo na mãe, no pai e na irmãzinha, mas nada falava. Quando
alguém lhe perguntava se queria mais café com leite simplesmente sorria.
Ia para a escola e sentia que se
continuasse não falando conseguiria ver coisas que ninguém via e assim ficava
em silêncio, em silêncio. Se a professora perguntasse a ele alguma coisa, fazia
cara de choro e ela com dó do menino mudava de assunto. Silêncio.
Já não se lembrava mais de sua
voz, aliás ninguém se lembrava do menino, parecia que ele era transparente, não
tinha amigos, pois para ter amigos é preciso falar e ele era totalmente chegado
ao silêncio.
Todas as manhãs, o silêncio vinha
e lhe falava a mesma coisa. O menino queria contrariá-lo, mas coitado era sozinho
o silêncio.
A mãe começou a se preocupar, o
pai achou melhor levá-lo a um psicólogo, mas quando lá chegou não respondia
nada, mas sua cara era de que tudo estava bem então tá.
O menino então foi crescendo, o
silêncio não largava seu pé, mas ele começou a perceber que nada via de
especial, ao contrário, só via tristeza, estava se sentindo triste, menino triste e
agora homem triste.
Em uma manhã, resolveu se
levantar antes do silêncio, e deu seu primeiro bom dia a seus pais, que agora
já não eram tão jovens, a mãe chorou ao ouvir a voz do filho, o pai começou a
lhe fazer tantas perguntas, que ele não dava conta de responder.
Saiu feliz para mais um dia, dava
um sorriso, falava algo engraçado a todos com quem encontrava. De repente, olhou para o céu e viu uma nuvem
especialmente bonita, apertou mais os olhos, a nuvem estava falando com ele e
ele respondeu: Ah... o silêncio está aí com você? E ele está bem? – Sim - disse
a nuvem, não para de falar com os anjos.
Para depois da história
Quantos de nós educadores e
família exigimos silêncio das crianças, mas o silêncio pode virar solidão.
Crianças com fobia social, dificuldade de se comunicar oralmente e também de
forma gráfica. O silêncio deve ser tratado com carinho e chamado para nosso
convívio em momentos especiais de escuta, de pensamento, de sonhos, de troca de
olhares, fora disso ele não é bem- vindo.
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